Esses minutos que se fazem dias, que se fazem meses, que se fazem anos, que consomem a minha vida. Tudo era pastel por um tempo. Como o episódio das meninas superpoderosas que eu assitia quando criança, em que o colorido do mundo era engolido por uma onda preto e branco. No meu caso, foi uma onda pastel. Amarelo-pastel, vermelho-pastel, verde-pastel. Estive navegando por esse mar desbotado de emoções confusas, de uma ansiedade disforme, de um medo vacilante. E continuei navegando, tentando convencer a mim mesma de que era tudo ilusão de ótica. As cores não haviam desbotado, o sol ainda era cintilante. Mas vejo que desbotou sim. Tudo desbotou mesmo. E em resposta, tratei de esconder minhas cores. Passei a criar apenas esporadicamente, e a guardar tudo como um tesouro escondido longe do mundo. Disse a mim mesma que ninguém precisava ver, nunca mais. Alguém disse que eu parecia triste. Eu disse: não, só foram as cores que desbotaram, não vê? Descobri que fugir dos pastéis é uma futilidade. Eles existem, como os neons e os vibrantes. E são belos, de certo um pouco melancólicos, mas sem dúvida suaves. Suaves como eu. Como eu poderia não amá-los? No fundo, eu nem gosto dos neons e dos cintilantes. Eles machucam meus olhos, eles gritam nos meus ouvidos. Eu só queria ser abraçada por um pôr do sol rosa-pastel. Dormir tranquila em um oceano azul-marinho-pastel. Talvez por isso eu ame os fins de tarde e deteste o meio-dia. Nos fins de tarde, a vida é tranquilamente pastel; no meio-dia, o mundo grita com sua garganta neón – e eu só quero me esconder na suavidade perdida do laranja-pastel. Percebi, enfim, que não é porque é pastel que precisa ser desbotado. Talvez o que aconteceu foi que alguém deixou cair alvejante no meu mundo deliciosamente pastel, e eu me afundei nessas cores desbotadas que não conhecia. Mas os efeitos do alvejante estão passando, e tenho reencontrado meu amor por criar. Criar por criar. As cores estão começando a vibrar novamente, e eu a vibrar junto com elas.

06/07/2020
Morgana Lino.