
após um longo e reconfortante verão
e um rápido e repentino outono.
Está inóspito.
Condições extremas.
Paisagens desérticas.
Ninguém pode sobreviver aqui além de mim, acostumada que estou.
Ainda assim, a vida dança entre as rachaduras e fissuras da camada de gelo que cobre meu trêmulo pulsar.
Minhas respostas às pessoas e ao mundo são ríspidas e geladas
como os ventos cortantes que sopram
em meu peito.
Tento me agarrar aos poucos raios solares que desafiam a estação
Alcançando timidamente o solo
Ajoelhada sobre meu coração congelado,
eu peço para ser levada de volta para o verão. Para o calor do sol implacável,
para os dias despreocupados,
a leveza no ar,
os sorrisos que tão facilmente escapavam dos meus lábios
e faziam festa no encontro de sorrisos alheios.
Me leve de volta para o fogo.
Ah, Deus, me leve de volta para o fogo!
Ou melhor! me acerte com um de seus relâmpagos e acenda de novo a chama
que parece ter se apagado dentro de mim.
Meus clamores são tragados pelo vazio gelado,
ecoando roucos nos glaciais sem vida.
Mas o inverno tem lá suas belezas.
Imersa em silêncio absoluto
aprendi a decifrar o uivo dos ventos.
A aurora boreal se desmancha no céu como um lembrete de que a beleza é condição da existência.
No esgotamento de mim mesma
encontro a estaca zero da vida.
Do lado de fora, o mundo me apresenta
suas exigências de um verão eterno.
Mas está gelado aqui
e eu mal tenho vontade de falar.
Me perguntam aonde eu fui parar.
Eu digo que ainda estou aqui, quieta. Vivenciando mais uma estação,
passageira como todas.
Alguns tentam me aquecer, sem sucesso.
O meu frio é interno.
Eu olho o mundo com olhos de inverno
e portanto, não posso ver senão o esfacelamento da vida.
Uma parte foi dizimada pelas intempéries
Outra, hiberna
protegida em seus sonhos da devastação que nos cerca.
O único animal acordado sou eu.
Mas, abaixo da vegetação morta
e do vazio que varre o horizonte até o infinito
jaz a atividade inesgotável da vida que germina.
As sementes enterradas nesse solo gasto gestam a fúria do verde vindouro,
que um dia cobrirá tudo isso que agora parece morto.
O frio é tanto assassino do medo
como progenitor da ousadia.
Que sejam respeitadas as estações,
pois é no inverno que a primavera ganha força
carregando no ventre a loucura e a inocência
de novos dias.
05/10/2018
As Quatro Estações, Inverno
Morgana.