eu queria que a sombra das coisas fosse menor sobre a minha vida.

tirei essa foto numa manhã de segunda-feira. e era uma manhã de segunda-feira linda. como as segundas-feiras normalmente são em Brasília. o céu sem nuvens, a luz despreocupada do sol atingindo o solo como em uma celebração. eu voltava do pilates e caminhava para casa, observando a pequena bolha de mundo que me cercava. pessoas brincando com seus cachorros no gramado, um casal de velhinhos caminhando a minha frente. tudo na mais perfeita ordem. menos eu.

eu, definitivamente, não estava na mais perfeita ordem.

tudo ao meu redor parecia em paz, mas eu sentia algo que não era nem tristeza nem raiva. acho que é angústia que se chama.
angústia porque eu não podia sentar no chão e brincar com os cachorros, porque eu não podia fazer uma longa caminhada com meu namorado, porque eu teria de ficar 10 horas do meu dia dentro de um prédio sem alma, com as paredes de concreto gritando de fora para dentro que elas também foram roubadas do solo e dos morros a que um dia pertenceram.

eu pensei por um longo período antes de terminar e postar este texto porque não quero que pareça que não sou grata pelo que tenho. sou bastante grata. mas seres humanos são complexos e, na complexidade que cabe a mim, a minha gratidão tem que conviver com o sentimento de destituição de coisas que me são básicas.

tive um desses flashes de consciência naquele momento e me perguntei porque eu estava me sentindo assim em um dia tão bonito. eu pensei “é só a sombra das coisas, que está grande demais sobre a minha vida”.

esse é um texto sem começo e sem final. um texto sem redenção.

às vezes não podemos mudar essas estruturas enormes e estáticas de lugar. mas nós não somos estáticos e nosso sol também não é. à medida que o sol da minha vida traça seu caminho no céu, partes de mim vão sendo iluminadas e partes de mim vão ficando na sombra, e as que ficam sentem frio e sentem medo. tudo bem, uma hora o sol vai iluminá-las também.

eu estou aqui para dançar meu caminho junto com osol, até que o único jogo de luz e sombra que exista seja entre eu e ele não entre eu e as estruturas inanimadas que formam a geografia da minha vida

18/07/2023

Morgana Lino.