É difícil pra mim saber como eu quero que a minha vida seja. Eu quase não consigo compreender pessoas que têm um plano, que têm uma resposta clara e bem estruturada para a pergunta “onde você quer estar em 10 anos?” ou mesmo o questionamento um tanto mais simples “o que você quer?”.
Não que eu não tenha planos.
Eu tenho.
Mas meus planos são como palavras escritas na areia da praia, facilmente apagados pelas ondas do mar.
Eu percebo que as pessoas vêm em muitos tipos diferentes, e o que serve para uma certamente não serve para outras. Mais do que ver a vida de forma objetiva, eu estou presente no mundo de uma forma particularmente existencialista, que não é certa nem errada, que me faz boiar num vazio sem cores, sem som, sem cheiro, que me traz muitas reflexões, algumas bonitas, outras tristes, que eu compartilho, às vezes com muitos, às vezes só comigo mesma, às vezes nem mesmo comigo, mas que me impossibilita, quase totalmente, de responder à simples pergunta “o que você quer?”.
Não que eu não possa responder.
Eu ainda tenho fala e ainda tenho voz, ainda tenho pensamentos e ainda tenho agência.
Só não posso responder coisas que façam muito sentido. O que eu quero? Eu quero o brilho do mar e o infinito do céu e o som das aves marinhas às cinco da tarde. Quero a sensação de ser amada. Quero me sentir livre, e não assoberbada de afazeres. Quero andar descalça em muitas trilhas e depois tomar banhos de banheira. Quero passar a mão na minha pele macia e dormir com o quentinho do meu chá preferido se espalhando pelo meu corpo. Minha vida são sensações e não objetivos, meu universo me cerca no agora e não nos caminhos do futuro. Eu ando vendada por esses buracos de minhoca, perdida e guiada, ao mesmo tempo, pelo bombardeio dos meus sentidos, paralisada, por vezes, no conflito entre meus medos e minha intuição.
Sem um sentido de identidade que me proteja da vida eu facilmente afundo no cerne do que é estar aqui, e, lá no fundo, às vezes eu chego em um nada completo, e esse nada apaga meus contornos e tira a minha vontade de viver.
Crescer, para mim, não é descobrir quem eu sou, é ser quem quer que eu seja em qualquer momento que seja. Minha bússola não são as conquistas do mundo, mas os sussurros tantas vezes quase inaudíveis do meu coração.
E assim eu me movo, cada vez mais eu, cada vez mais dentro de mim.
30.07.2023
Morgana Lino.